Penso numa festa de natal que ultrapasse a mesmice de todo ano. Nada contra o alegre encontro de famílias, o pernil assado, as bebidas e a buliçosa revelação do “amigo oculto”. Sabe-se, porém, que a festa, sobretudo se contar com muita bebida e bêbados, pode camuflar a realidade. Pode passar a imagem de que tudo na família decorre na paz, quando na verdade, acaba encobrindo um montão de situações não resolvidas.
Falemos, por exemplo, daquela velha raiva entre nora e sogra, ou mesmo das migalhas de ódio que sobraram de um bate-boca ocorrido três anos atrás, entre irmãos de sangue. Lembremos também aquela filha que se casou, mudou para longe e se recusa, por algum mal-entendido, a telefonar para a mãe no dia do aniversário desta e menos ainda no dia do natal!
O certo é que, nessas reuniões, desperdiçamos muito tempo comentando sobre uma briga de família que aconteceu há dez anos. Tempo inútil. Infecundo. Por que não derrubar a crista do orgulho e, com simplicidade, procurar reatar os laços de amizade de tantos anos?
Proponho, por isso, que o natal seja ocasião propícia para recompor as relações arranhadas nestes últimos anos. Tempo de aplicar sobre o rasgo das ofensas mútuas um bálsamo terapêutico.
Queremos um natal diferente. Sair da mesmice de todos os anos. Haverá comida abundante para todos; não faltarão bebidas para animação dos convidados. Haverá talvez até mesmo troca de presentes, na brincadeira de amigo secreto ou espontaneamente. Mas, acima de tudo, nosso natal será o gerador de uma alegria profunda, capaz de suscitar lágrimas benfazejas e fazer brotar abraços e beijos sinceros. A convivência harmoniosa entre todos será fruto de atitudes de reconciliação, de pedidos de perdão. Então, nossas relações fraternas e familiares serão mais duradouras; os diálogos, mais autênticos. Desse modo, o natal conquistará seu verdadeiro sentido: envolver-nos com os braços do amor.
Pe. Luiz Miguel Duarte, SSP